31/10/07

'Lascia ch'io pianga'

Deliciem-se no feriado a ouvir Angela Gheorghiu cantar ,como ninguem, esta ària da ópera "Rinaldo" de Handel, e com direito a tradução:

Tiraste-me do meu querido céu, para minha tristeza!
E aqui, em dor eterna, manténs-me viva em tormento eterno!
Ah, Senhor! Piedade! Deixe-me chorar.
Deixe-me chorar o meu cruel destino
E almejar a liberdade!
E possa a dor, quebrar as cadeias do meu sofrimento!”

30/10/07


por entre serenas tempestades e vagas de assustadora calmaria
navego meu barco de sonhos e mágoas
qual lua mansa sobre mar revolto
rumo a porto seguro
e sinto o salgado naufrágio da tua ausência

…ao longe, velas brancas envoltas nas brumas de um amanhecer distante…

28/10/07


Não sei das palavras que escorriam da alma desenhando aguarelas de azuis por inventar

tenho as mãos vestidas de vazio

23/10/07


tal como és, assim te quero, e sempre
diverso cada dia do que foste;
cada imperfeito gesto que inventares
me fará desejar-te em outro verso.
Da arte do soneto feito mestre
no concurso sem regra da floresta,
na mais pequena folha te descubro
e no caule do vento é que te perco.
Da turva luz já retirei o emblema
que me sirva de rosto permanente
e venha o cabeçalho do poema;
e pedirei á noite que me empreste
um farrapo do manto incandescente
de que se veste, agora, para ter-te

António Franco Alexandre (Duende)

Não tremas. Eu não te vou prender, não te vou perseguir, não te vou enfeitiçar. És inteiramente livre.Poderia eu querer-te preso, mesmo a mim, depois do que para mim foste? Se eu te prendesse, ainda que com laços de imenso amor, a que tu próprio não quizesses fugir, que alegria seria a tua nos meus braços, ou a minha nos teus? Amar-me-ias por certo com uma violência maior, como se quizesses matar-me com as tuas armas de homem, e eu tiraria um prazer dobrado. Mas depois... depois como poderia eu olhar-te nos olhos, vendo neles um rancor horrível de estares preso a mim, rancor que nem tu confessarias a ti mesmo, mas que os teus olhos me diriam para sempre, a cada hora, mesmo quando ardessem no desejo ou no acto de estares em mim?Então ele recostou na anca dela a cabeça e, de olhos fechados, ficou assim demoradamente, sem pensar em nada, sem sentir nada, apenas dado ao calor que o penetrava suavemente e era só ternura. No sono que o envolvia como um cansaço feliz, a sua ama, com a voz dela, cantava-lhe um velho cantar que, pouco a pouco, foi deixando de ouvir, na deriva em que se afastava de tudo e de si mesmo, com a sensação de que não estava só na barca que descia o rio. E a segurança que jamais estaria só, nunca, nunca, em parte nenhuma.

Jorge de Sena ( O Físico prodigioso)

22/10/07


[…]
Sonhei tanto contigo,
Caminhei tanto, falei tanto
Amei tanto a tua sombra,
Que já nada me resta de ti.
Resta-me ser sombra entre as sombras
Ser cem vezes mais sombra que a sombra
Ser a sombra que há-de vir e voltar
Na tua vida cheia de sol.

Robert Desnos - Corps et Biens (À la mystérieuse)

21/10/07

Insónia


Toda a noite, lentamente, dois ponteiros no relógio dançaram a valsa do tempo
e eu a vê-los dançar…
assim que o sol despertar, mal o candeeiro da rua se apague, vou subir à rocha mais alta e atirar os meus sonhos ao mar
quando, lentamente, dois ponteiros no relógio recomeçarem a valsa do tempo,
só o candeeiro da rua os irá ver dançar

19/10/07

Happy Birthday "old" friend

Por acreditares que é possível saltar muros altos e atravessar portas fechadas
Uma das minhas preferidas:Ella Fitzgerald-Georgia on my mind

18/10/07

gosto da melancolia contida na chuva miudinha
que enfeita os dias de céu cinzento

gosto da bruma que invade a ilha
envolvendo minha alma numa inquieta nostalgia

céu cinzento... inquieta nostalgia...

14/10/07

How I wish you were here


So, so you think you can tell
Heaven from Hell,
Blue skies from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

And did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold confort for change?
And did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish, how I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

Roger Waters e David Gilmour

10/10/07

Poema del renunciamiento



Pasarás por mi vida sin saber que pasaste.
Pasarás en silencio por mi amor, y al pasar,
fingiré una sonrisa, como un dulce contraste
del dolor de quererte ... y jamás lo sabrás.

Soñaré con el nácar virginal de tu frente;
soñaré con tus ojos de esmeraldas de mar;
soñaré con tus labios desesperadamente;
soñaré con tus besos ... y jamás lo sabrás.

Quizá pases con otro que te diga al oído
esas frases que nadie como yo te dirá;
y, ahogando para siempre mi amor inadvertido,
te amaré más que nunca ... y jamás lo sabrás.

Yo te amaré en silencio, como algo inaccesible,
como un sueño que nunca lograré realizar;
y el lejano perfume de mi amor imposible
rozará tus cabellos ... y jamás lo sabrás.

Y si un día una lágrima denunciar mi tormento,
-el tormento infinito que te debo ocultar-
yo te diré sonriente: "No es nada ... ha sido el viento".
Me enjugaré la lágrima... y jamás lo sabrás

José Angel Buesa in Babel

09/10/07

Aedh Wishes for the Cloths of Heaven


Tivesse eu os tecidos bordados dos céus,
Lavrados com a prata e o ouro da luz,
Os tecidos azuis e foscos e de breu
Que têm a noite, a luz e a meia-luz
Estenderia esses tecidos a teus pés:
Mas eu, porque sou pobre, apenas tenho sonhos;
São os meus sonhos que eu estendi a teus pés;
Sê suave no pisar, que pisas os meus sonhos.


W. B. Yeats in: The Land Of Heart's Desire (1894)

07/10/07

Não queiras saber de mim...


Não queiras saber de mim
Esta noite não estou cá
Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
Como se chegasse ao fim
Fico abaixo do tapete
Afundado no serrim

Não queiras saber de mim
Porque eu estou que não me entendo
Dança tu que eu fico assim
Hoje não me recomendo

Mas tu pões esse vestido
E voas até ao topo
E fumas do meu cigarro
E bebes do meu copo
Mas nem isso faz sentido
Só agrava o meu estado
Quanto mais brilha a tua luz
Mais eu fico apagado

Amanhã eu sei já passa
Mas agora estou assim
Hoje perdi toda a graça
Não queiras saber de mim

Dança tu que eu fico assim
Porque eu estou que não me entendo
Não queiras saber de mim
Hoje não me recomendo


Carlos Tê/Rui Veloso

04/10/07


E agora uma questão:

Caros amigos, como se sentiriam se dessem de caras com os vossos escritos, postados por outras pessoas, noutros blogues ou em comentários, e ainda por cima, assinados descaradamente como sendo delas?

Por uma questão de princípios, senti-me triste... não devia?

Oceano Nox


Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...


Antero de Quental (Poesia Completa, 1842-1891)

01/10/07


a cada folha que cai há um prenúncio de despedida
na aragem da tarde sopra gelada a palavra adeus
e no caminho, castanho laranja, em cantos distantes…
o som dos teus passos