27/11/08


Canção

Limiar de ser
entre sombra e voo
à face de ser
pouco mais que sopro

Sem saber se é
criatura ou ar
entre o não sei quê
e o saber voar

Todo iluminado
feito só de errância
conhece o acaso
e a circunstância

Ténue passageiro
de um gesto a lembrança
no seu voo ei-lo
como uma criança

Sem rosto nem rasto
despido de branco
voa contra o vento
ébrio de ser anjo.

Bernardo Pinto de Almeida in e outros poemas

05/11/08


A estrada não trilhada

Num bosque, em pleno outono, a estrada bifurcou-se,
mas, sendo um só, só um caminho eu tomaria.
Assim, por longo tempo eu ali me detive,
e um deles observei até um longo declive
no qual, dobrando, desaparecia...

Porém tomei o outro, igualmente viável,
e tendo mesmo um atractivo especial,
pois mais ramos possuía e talvez mais capim,
embora, quanto a isso, o caminhar, no fim,
os tivesse marcado por igual.

E ambos, nessa manhã, jaziam recobertos
de folhas que nenhum pisar enegrecera.
O primeiro deixei, oh, para um outro dia!
E, intuindo que um caminho outro caminho gera,
Duvidei se algum dia eu voltaria.

Isto eu hei de contar mais tarde, num suspiro,
nalgum tempo ou lugar desta jornada extensa:
a estrada divergiu naquele bosque – e eu
segui pela que mais ínvia me pareceu,
e foi o que fez toda a diferença.

Robert Frost in Antologia Poética