23/04/10
19/04/10
A profunda harmonia entre ela e o mundo - uma harmonia difícil, instável, porque ela insistia sempre em viver com rigor, com uma atenção que não afrouxava nunca, mesmo quando dormia - o rigor, por exemplo, com que domava ou desmanchava os sonhos, obrigando-se a lembrá-los, obrigando-os a saltar por dentro de arcos incendiados, as flores imaginadas formando finalmente um ramo, as flores de sombra, de sol, de areia, domar o vento, aprender a cavalgar o vento, pôr um risco de azul a contornar o mar, a dura acrobacia do seu corpo, ao mesmo tempo solto e geométrico, os difíceis exercícios interiores, os saltos mortais de olhos vendados sobre um fio de arame estendido entre o possível e o impossível.
Teolinda Gersão, Os Guarda-Chuvas Cintilantes, 1984
Publicada por Ad astra à(s) 19.4.10 1 comentários