13/08/07
10/08/07
09/08/07
“…Talvez nunca ninguém tenha baptizado pedras, mas Manuel deu nome a muitas. De tanto viver com elas, chegou ao ponto de lhes falar.
De lhes dar os bons dias e desejar boa noite. Com ar sério, com sentimento a sério. Precisava delas para se sentar, para subir mais alto e avistar mais longe, para se deitar á sua sombra. E a gente ama aquilo de que precisa e dá nome àquilo que ama.
Os nomes eram todos de mulheres, o que as tornava mais belas. E algumas tinham diminutivos, como se pudessem crescer.
Num recôndito aonde não havia quem fosse, e se lá fosse, não seria visto nem poderia ver ninguém, estava plantada uma pedra de que nunca precisara. Por isso não tinha nome. Se ali falasse sozinho não o chamariam maluco. Se ali chorasse, não lhe diriam que era um maricas. Na segunda-feira, foi até junto dela. E a pedra passou a ter nome..”
Daniel de Sá
(O Pastor das Casas Mortas)
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08/08/07
Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue
Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos
Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente
Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer
Mia Couto
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07/08/07
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03/08/07
Passou a diligência pela estrada, e foi-se;
E a estrada não ficou mais bela, nem sequer mais feia.
Assim é a acção humana pelo mundo fora.
Nada tiramos e nada pomos; passamos e esquecemos;
E o sol é sempre pontual todos os dias.
Fernando Pessoa
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Narciso Yepes - Recuerdos de la Alhambra
É ... esta noite estou assim...
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01/08/07
Aqui está mais um dos meus escritores favoritos, T.S.Elliot em:
Burnt Norton
O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
O que podia ter sido é uma abstracção
Permanecendo possibilidade perpétua
Apenas num mundo de especulação.
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.
Ecoam passos na memória
Ao longo do corredor que não seguimos
Em direcção à porta que nunca abrimos
Para o roseiral. As minhas palavras ecoam
Assim, no teu espirito.
Mas para quê
Perturbar a poeira numa taça de folhas de rosa
Não sei.
Outros ecos
Habitam o jardim. Vamos segui-los?
(…)
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