10/07/08



Abandono

A quem senão a ti direi
como estou triste? Mas se a tristeza vem
de tu não estares, como ta direi, como hei-
de juntar o que me está doendo ao ven-
to que não bate mais à tua porta? Eu sei

que a tristeza é só isto, é só isto,
o descoincidir consigo mesmo, eu sei,
descoincidir com os outros, estava previsto
porque dentro de si o mundo não coincide e
não há senão tristeza. Em cada um está Cristo

sempre abandonado, cada um abandonado
a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado
promessa de te ter sempre junto a mim
não ausência, nem dor, nem habitado

ser por todo este absurdo. Morrer
um pouco, disse, sem saber o que dizia
pois eram só palavras, como se a prometer
tudo aquilo que havia e não havia.

Não haver palavras és tu a desaparecer.


Bernardo Pinto de Almeida in Hotel Spleen

14 comentários:

~pi disse...

não haver palavras é o

OcO

a SER







( beijo






~

susemad disse...

Doces palavras.
Beijo grande

Dalaila disse...

sem eco,
sem ser
sem nada

eduardo jai disse...

deixei a preguiça do reader para vir aqui deixar-te o desejo de um dia BOM.

:)

ROSASIVENTOS disse...

fogo

PARTO pergaminho


manhã fresca luz de ti sangue

meu nu fruto

TERRA

avelaneiraflorida disse...

Querida AD ASTRA,

e ser ...será sempre o eco de alguém!!!!
Bom fim de semana!!!!
Bjkas, amiga!!!!

luci disse...

inventem-se:

palavras

outras:

ao

invés

Maria Laura disse...

Solidão, saudade, ditas de forma tão bela...

carteiro disse...

As palavras são o que são... até no abandono.
um beijinho.

hfm disse...

Não conhecia. Muito belo.

hfm disse...

Só para enviar um beijinho.

samuel disse...

"Não haver palavras és tu a desaparecer" é muito bonito!

Abreijos

E. Raposo disse...

pois...

nana disse...

" Horizonte
de zeros
nebulosos

todos os rostos
que não são
o teu

Um dia
sem ouvir
a tua voz

é como descobrir
que o mar
morreu. "


(david mourão-ferreira)




..



abraço
forte
e imenso.


@-,-'-

David Mourão-Ferreira