08/08/07


Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu
quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer

Mia Couto

7 comentários:

Anónimo disse...

Eu pergunto, pergunto tudo, mas tu não me respondes.
Mas eu quero saber

beijo com todo o carinho

hfm disse...

Como gosto destas perguntas!

avelaneiraflorida disse...

MIA COUTO!!!!!!!!

Que bela escolha, AD ASTRA!!!

Nem sempre queremos fazer as perguntas...que têm de ser feitas!!!!

Mas é preferível...do que permanecer afundada nas dúvidas!!!!
BJKS

TG disse...

...ouvir-te na entoação da pergunta, sabendo-me na resposta...pergunta-me agora, enquanto aberto estou ao som da tua voz...

um beijo

tchi disse...

Quão exigentes perguntas...

Mia Couto é um escritor Moçam-guês, que muito gosto de ler e com quem já tive oportunidade de estar e ouvir, algumas vezes.

Beijinho.

Joana Roque Lino disse...

Muito bem escolhido Ad astra. Mas também gosto de te ler a ti. Bjs

susemad disse...

A primeira vez que li este poema também foi num outro blogue e fiquei maravilhada com tão belas palavras. Gostei tanto do poema, que acabei por partilhá-lo com uma pessoa. :)