05/04/09


Reconhecimento à Loucura

Já alguém sentiu a loucura
vestir de repente o nosso corpo?
Já.
E tomar a forma dos objectos?
Sim.
E acender relâmpagos no pensamento?
Também.
E às vezes parecer ser o fim?
Exactamente.
Como o cavalo do soneto de Ângelo de Lima?
Tal e qual.
E depois mostrar-nos o que há-de vir
muito melhor do que está?
E dar-nos a cheirar uma cor
que nos faz seguir viagem
sem paragem
nem resignação?
E sentirmo-nos empurrados pelos rins
na aula de descer abismos
e fazer dos abismos descidas de recreio
e covas de encher novidade?
E de uns fazer gigantes
e de outros alienados?
E fazer frente ao impossível
atrevidamente
e ganhar-Ihe, e ganhar-Ihe
a ponto do impossível ficar possível?
E quando tudo parece perfeito
poder-se ir ainda mais além?
E isto de desencantar vidas
aos que julgam que a vida é só uma?
E isto de haver sempre ainda mais uma maneira pra tudo?

Tu Só, loucura, és capaz de transformar
o mundo tantas vezes quantas sejam as necessárias para olhos individuais
Só tu és capaz de fazer que tenham razão
tantas razões que hão-de viver juntas.
Tudo, excepto tu, é rotina peganhenta.
Só tu tens asas para dar
a quem tas vier buscar

José de Almada Negreiros in Poemas

8 comentários:

~pi disse...

a normalidade é o que me parece loucura,,,,

( ela e o seu culto hipócrita!



beijo



~

Unknown disse...

Querida AD ASTRA,


e que bom é ser-se louco por uma loucura!!!!!

Bjkas!!!!

jrd disse...

É possível que estejamos loucos se não quisermos o impossível

hfm disse...

Asas de olhos individuais.

Boa Páscoa. Um beijo.

Mar Arável disse...

A minha loucura

está inscrita

por desbravar

no mar desgrenhado

nos cravos de Abril

nas breves

papoilas

tchi disse...

Asas para partilhar cada novo voo.

Feliz Páscoa para ti.

Beijinhos.

samuel disse...

O "rasteirinho" é que mata tudo...
Belo texto!

Maria Clarinda disse...

E que bom ser louca!!!!
Lindo este poema!
Obrigada pela partilha
Jinhos