21/12/07
19/12/07
ou se ao menos me desses as mãos como quem beija
e não partisses, assim, empurrando o vento
com o coração aflito, sufocado de segredos;
se ao menos percebesses que eram nossos
todos os bancos de todos os jardins;
se ao menos guardasses nos teus gestos essa bandeira de lirismo
que ambos empunhamos na cidade clandestina
Quando as manhas cheiravam a óleo e a flores
e o inverno espreitava ainda nas esquinas como uma criança tremendo;
se ao menos tivesses levado as minhas mãos para tocar os teus dedos
para guardar o teu corpo;
se ao menos tivesses quebrado o riso frio dos espelhos
onde o teu rosto se esconde no meu rosto
e a minha boca lembra a tua despedida,
talvez que, hoje, meu amor, eu pudesse esquecer
essa cor perdida nos teus olhos.
Joaquim Pessoa in Antologia Poética
Publicada por Ad astra à(s) 19.12.07 15 comentários
16/12/07
12/12/07
José Gomes Ferreira in Poeta Militante II
Publicada por Ad astra à(s) 12.12.07 12 comentários
10/12/07
Nirvana
Para além do Universo luminoso,
Cheio de formas, de rumor, de lida,
De forças, de desejos e de vida,
Abre-se como um vácuo tenebroso.
A onda desse mar tumultuoso
Vem ali expirar, esmaecida...
Numa imobilidade indefinida
Termina ali o ser, inerte, ocioso...
E quando o pensamento, assim absorto,
Emerge a custo desse mundo morto
E torna a olhar as coisas naturais,
À bela luz da vida, ampla, infinita,
Só vê com tédio, em tudo quanto fita,
A ilusão e o vazio universais
Antero de Quental in Sonetos
Publicada por Ad astra à(s) 10.12.07 14 comentários
06/12/07
...e a maciez de tudo:
um lápis entre os dedos,
dois cigarros,
quatro colheres de
açúcar,
que me amargava o chá
(mesmo de nervos)
Assim já está
melhor: amarga a vida
mas o chá docinho:
luminosa cidreira
entre pregas e rotas
interiores.
Caminho certo
para o coração
Ana Luísa Amaral- Aritmética, in Poesia reunida
Publicada por Ad astra à(s) 6.12.07 10 comentários
03/12/07
(Prelúdio em forma de grito, para um livro de confissões pessoais que nunca escreverei)
Ouve, tu que não existes em nenhum céu:
Estou farto de escavar nos olhos
abismos de ternura
onde cabem todos
- menos eu.
Estou farto de palavras de perdão
que me ferem a boca
dum frio de lágrimas quentes de punhal.
Estou farto desta dor inútil
de chorar por mim nos outros.
- Eu que nem sequer tenho a coragem de escrever
os versos que me fazem doer.
..................................................................................
Ah! Se eu imitasse a alegria das arvores e do vento
Que riem sem motivo.
Mas não. Ando triste.
Já não me contento em sentir-me vivo…
(E que outro destino existe?)
José Gomes Ferreira in Poeta Militante
Publicada por Ad astra à(s) 3.12.07 12 comentários