Flores
É nestas flores, em particular, que
vejo desenhar-se uma linha que me leva
de mim a ti, passando sobre um campo
invisível, onde já não se ouvem
os pássaros, e onde o vento não faz cair
as folhas. Estamos em frente de um canteiro
puramente abstracto, e cada uma destas flores
nasceu das frases em que o amor se manifesta,
e do movimento dos dedos sobre a pele,
traçando um fio de horizonte
em que os meus olhos se perdem. Por isso estão
vivas, e alimentam-se da seiva
que bebem nos teus lábios, quando os abres,
e por instantes a vida inteira se resume
ao sorriso que neles se esboça.
Nuno Júdice in Poesia Reunida
31/05/08
27/05/08
23/05/08
Só depois de sentir a textura das nuvens na tuas mãos
percebi sentimentos que não cabem em poemas
não existem palavras de sentir
capazes de desenhar reflexos de um sonho
então não digo …
Publicada por Ad astra à(s) 23.5.08 13 comentários
20/05/08
"Movimentos"
Apertei mais a tua mão presa na minha e senti-te subitamente longe. Dobrei mais ainda os dedos sobre os teus quase fincando as unhas, sentindo a pele quente, os dedos compridos, firmes, toda a tua mão como que todo o teu corpo. A saudade, a distância do teu corpo, a distância da tua mão ali na minha. O teu perfil recorta-se na quase total escuridão da sala. Desvio os olhos de ti e fixo-os no ecran brilhante, luminoso; o teu perfil persiste sobrepondo-se à rapariga que canta (...)
Publicada por Ad astra à(s) 20.5.08 9 comentários
19/05/08
hoje inverteram-se os papeis
não fomos ver o mar
fui eu ver-te
ver-te ... ver o que resta de ti
sorri, impedi a lagrima
gracejei e engoli a raiva
so não te disse como doi,
como gosto de ti
anda, vamos ver o mar...
Publicada por Ad astra à(s) 19.5.08 14 comentários
13/05/08
Intimidade
No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,
Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,
No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.
José Saramago in Os Poemas Possíveis
Publicada por Ad astra à(s) 13.5.08 14 comentários
Mesmo quietinha e sem publicar grandes coisas, fui honrada com mais um destes prémios, que circulam na blogosfera.
A excelência do blogue de onde provém obriga-me a não ficar indiferente e proceder à sua publicação e consequente distribuição.
Claro que, como sempre, estas atribuições tem regras, mas a verdade é que ando tão cansada delas que, desta vez, apeteceu-me subvertê-las.
Assim, este prémio é para TODOS VÓS, os poucos mas muito bons, que sempre me visitam.
Levem-no… é Vosso!!!
Publicada por Ad astra à(s) 13.5.08 16 comentários
01/05/08
it is at moments after i have dreamed
of the rare entertainment of your eyes,
when (being fool to fancy) i have deemed
with your peculiar mouth my heart made wise;
at moments when the glassy darkness holds
the genuine apparition of your smile
(it was through tears always) and silence moulds
such strangeness as was mine a little while;
moments when my once more illustrious arms
are filled with fascination, when my breast
wears the intolerant brightness of your charms:
one pierced moment whiter than the rest
-turning from the tremendous lie of sleep
i watch the roses of the day grow deep.
e.e.cummings
Publicada por Ad astra à(s) 1.5.08 24 comentários