21/12/07

Feliz Natal


recados para orkut

[blue]***[/blue] Novas animações de Ávores de Natal

19/12/07


Se ao menos soubesses tudo o que eu não disse
ou se ao menos me desses as mãos como quem beija
e não partisses, assim, empurrando o vento
com o coração aflito, sufocado de segredos;
se ao menos percebesses que eram nossos
todos os bancos de todos os jardins;
se ao menos guardasses nos teus gestos essa bandeira de lirismo
que ambos empunhamos na cidade clandestina
Quando as manhas cheiravam a óleo e a flores
e o inverno espreitava ainda nas esquinas como uma criança tremendo;
se ao menos tivesses levado as minhas mãos para tocar os teus dedos
para guardar o teu corpo;
se ao menos tivesses quebrado o riso frio dos espelhos
onde o teu rosto se esconde no meu rosto
e a minha boca lembra a tua despedida,
talvez que, hoje, meu amor, eu pudesse esquecer
essa cor perdida nos teus olhos.

Joaquim Pessoa in Antologia Poética

16/12/07

insólito bailado
de ventos ciclónicos
sacode-me a alma

sinto-te fim

e rodopiam as palavras
ébrias do sal
das lágrimas contidas

12/12/07


Que me importa que chova e arrefeça
à minha passagem
se trago na cabeça a ideia e o luar
que estendo na paisagem quando a noite chegar?
(E não há luar mais belo
do que esta música de concebê-lo.)
[…]

José Gomes Ferreira in Poeta Militante II



Porque quando se ousa caminhar, serenamente os atalhos de todos os sonhos e memórias, acontecem viagens — viagens entre o quase tudo... e o quase nada.

10/12/07


Nirvana

Para além do Universo luminoso,
Cheio de formas, de rumor, de lida,
De forças, de desejos e de vida,
Abre-se como um vácuo tenebroso.

A onda desse mar tumultuoso
Vem ali expirar, esmaecida...
Numa imobilidade indefinida
Termina ali o ser, inerte, ocioso...

E quando o pensamento, assim absorto,
Emerge a custo desse mundo morto
E torna a olhar as coisas naturais,

À bela luz da vida, ampla, infinita,
Só vê com tédio, em tudo quanto fita,
A ilusão e o vazio universais

Antero de Quental in Sonetos

06/12/07



...e a maciez de tudo:
um lápis entre os dedos,
dois cigarros,
quatro colheres de
açúcar,
que me amargava o chá
(mesmo de nervos)

Assim já está
melhor: amarga a vida
mas o chá docinho:
luminosa cidreira
entre pregas e rotas
interiores.

Caminho certo
para o coração

Ana Luísa Amaral- Aritmética, in Poesia reunida

03/12/07



(Prelúdio em forma de grito, para um livro de confissões pessoais que nunca escreverei)

Ouve, tu que não existes em nenhum céu:

Estou farto de escavar nos olhos
abismos de ternura
onde cabem todos
- menos eu.

Estou farto de palavras de perdão
que me ferem a boca
dum frio de lágrimas quentes de punhal.

Estou farto desta dor inútil
de chorar por mim nos outros.

- Eu que nem sequer tenho a coragem de escrever
os versos que me fazem doer.

..................................................................................

Ah! Se eu imitasse a alegria das arvores e do vento
Que riem sem motivo.

Mas não. Ando triste.
Já não me contento em sentir-me vivo…
(E que outro destino existe?)


José Gomes Ferreira in Poeta Militante

30/11/07



Difícil...
difícil e inglória tarefa, esta das mãos tentarem acompanhar ao teclado,

o pensamento que vagueia inquieto...

27/11/07


Canción de la espera

Espero tu sonrisa y espero tu fragancia
por encima de todo, del tiempo y la distancia.
Yo no sé desde dónde, hacia dónde, ni cuándo
regresarás... sé sólo que te estaré esperando.

En lo alto del bosque y en lo hondo del lago,
en el minuto alegre y en el minuto aciago,
en la función pagana y en el sagrado rito,
en el limpio silencio y en el áspero grito.

Allí donde es más fuerte la voz de la cascada,
allí donde está todo y allí donde no hay nada,
en la pluma del ala y en el sol del ocaso,
yo esperaré el sonido rítmico de tu paso.

Comprendo que de mí ya se ría la gente
al ver cómo te espero desesperadamente.
Cuando todos los astros se apaguen en el cielo,
cuando todos los pájaros paralicen el vuelo
cansados de esperarte, ese día
lejano yo te estaré esperando todavía.

No importa: aunque me digan todos que desvarío,
yo te espero en las ondas musicales del río,
en la nube que llega blanca de su trayecto,
en el camino angosto y en el camino recto.

Niño, joven o anciano, sonriendo o llorando,
en el alba o la tarde, yo te estaré esperando,
y si me convenciera que ese ansiado día
no habría de llegar, también te esperaría.


José Angel Buesa in Babel

26/11/07


…de como nada mais precisa dizer, pois que já o fez Álvaro de Campos, como abaixo de pode ler...

I

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei,
De nada me serviria sabê-lo
Pois o cansaço fica na mesma,
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
[…]
Estou cansado é claro
II

[...]
Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas por dentro de todas as hipóteses que eu poderia
ver da rua
Não há travessa achada o número de portas que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida…

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapso de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.

Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me náufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
[…]

Lisbon Revisited (1926)

III

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
[…]
O que há em mim é sobretudo cansaço

22/11/07


Começo a conhecer-me. Não existo.

Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,

Ou metade desse intervalo, porque também há vida…

Sou isso, enfim…

Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.

Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.

É um universo barato.


Álvaro de Campos

21/11/07


Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.


No calcanhar do vento
António Ramos Rosa in Antologia Poética

19/11/07

As minhas Ansiedades

As minhas ansiedades caem
Por uma escada abaixo
Os meus desejos balouçam-se
Em meio de um jardim vertical.

Na Múmia a posição é absolutamente exata

Música longínqua
Música excessivamente longínqua,
Para que a Vida passe
E colher esqueça aos gestos


Fernando Pessoa -Cancioneiro



Chuva: fenómeno meteorológico que consiste na precipitação de água sobre a superfície da Terra
-Nem todas as chuvas atingem o solo, algumas evaporam-se enquanto estão ainda a cair -


manhã submersa... ilha submersa… alma submersa

18/11/07


On the stiff twig up there
Hunches a wet black rook
Arranging and rearrainging its feathers in the rain.
I do not expect a miracle
Or an accident
Sylvia Plath

Sinto que também tu a vês rondar, sombra de negro vestida, rindo irónica, indiferente e insensível ao tempo que por direito te devia esperar

apertas-me a mão, sorriso calmo e cansado, como a pedir que a tire dali, que não a deixe ganhar

e eu tento afastá-la da única forma que sei, com as únicas armas que tenho
… meus braços para te abraçar…


16/11/07


Um dia… não hoje
um dia vou escrever chilreios de pássaros, céus azuis, campos de flores
mãos dadas, sorrisos alegres
e uma alvorada de mil cores

um dia… não hoje
hoje escrevo rosto em traço cerrado, névoas de silêncio pesado,
negro céu carregado, vento de sopro gelado
e uma mão cheia de amanhãs adiados

13/11/07



Cumpria-se Novembro na primeira hora daquela tarde
antes que a chuva chegasse aberta para lavar o jardim com mansidão
e humedecesse meus olhos pela cor perdida,
que a memória não ajuda a reter o sabor de um beijo,

procurei azul …

cumpria-se Novembro e naquela tarde que era quase uma noite, olhei o céu e a sua luz empalidecera também.

quem pôde desbotar as cores dos meus olhos?

12/11/07

Balada de sempre


Espero
a tua vinda,
a tua vinda,
em dia de lua cheia.
debruço-me sobre a noite
inventando crescentes e luares.
Espero o momento da chegada
com o cansaço e o ardor de todas as chegadas.
Rasgarás nuvens, estradas,
abrindo clareiras
nas sebes e nas ciladas.
Saltarás por cima de mares,
de planícies e relevos
- ânsia alada
no meu desejo imaginada
Mas
enquanto deixo a janela aberta
para entrares
o mar aí além,
lambe-me os braços hirtos,
braços verdes
algas de sonho
- e desenha ironias na areia molhada

Fernando Namora in As frias Madrugadas

07/11/07


falta um espaço no tempo… um compasso no espaço
falta talvez, apenas um passo
sobram sorrisos alegres, palavras amáveis…
máscaras moldadas em ausências de ti

04/11/07

Longinqua e calma melodia
no lado vazio da noite perturba silêncios

São dedos, libertos do medo...
dedilham ternura, desvendam segredos

E cristalinas lágrimas, tecidas de sonho por cumprir
imitam gotas de chuva
.

02/11/07

Dando cumprimento ao desafio que me foi lançado, aqui vai:

1) Sem escolher, pegar no livro mais próximo;
2) Abri-lo na página 161;
3) Na referida página procurar a 5ª frase completa;
4) Transcrever na íntegra para o seu blogue, a frase encontrada;
5) Passar o desafio a 5 bloggers;

7) Divulgar o nome e o autor do Livro.

“ Começamos a falar de progresso.Disse que a questão de fazer o bem ou fazer o mal, cada um de nós decide por si, sem esperar o momento em que a Humanidade chegue a uma conclusão sobre isso, através do desenvolvimento progressivo"

Anton Tchekov
A minha vida - relato de um provinciano

E agora passo o desafio a : Palavras previamente Ensaiadas, As mãos por dentro do corpo, Urbanidades, Selos difusos e Marulhos

31/10/07

'Lascia ch'io pianga'

Deliciem-se no feriado a ouvir Angela Gheorghiu cantar ,como ninguem, esta ària da ópera "Rinaldo" de Handel, e com direito a tradução:

Tiraste-me do meu querido céu, para minha tristeza!
E aqui, em dor eterna, manténs-me viva em tormento eterno!
Ah, Senhor! Piedade! Deixe-me chorar.
Deixe-me chorar o meu cruel destino
E almejar a liberdade!
E possa a dor, quebrar as cadeias do meu sofrimento!”

30/10/07


por entre serenas tempestades e vagas de assustadora calmaria
navego meu barco de sonhos e mágoas
qual lua mansa sobre mar revolto
rumo a porto seguro
e sinto o salgado naufrágio da tua ausência

…ao longe, velas brancas envoltas nas brumas de um amanhecer distante…

28/10/07


Não sei das palavras que escorriam da alma desenhando aguarelas de azuis por inventar

tenho as mãos vestidas de vazio

23/10/07


tal como és, assim te quero, e sempre
diverso cada dia do que foste;
cada imperfeito gesto que inventares
me fará desejar-te em outro verso.
Da arte do soneto feito mestre
no concurso sem regra da floresta,
na mais pequena folha te descubro
e no caule do vento é que te perco.
Da turva luz já retirei o emblema
que me sirva de rosto permanente
e venha o cabeçalho do poema;
e pedirei á noite que me empreste
um farrapo do manto incandescente
de que se veste, agora, para ter-te

António Franco Alexandre (Duende)

Não tremas. Eu não te vou prender, não te vou perseguir, não te vou enfeitiçar. És inteiramente livre.Poderia eu querer-te preso, mesmo a mim, depois do que para mim foste? Se eu te prendesse, ainda que com laços de imenso amor, a que tu próprio não quizesses fugir, que alegria seria a tua nos meus braços, ou a minha nos teus? Amar-me-ias por certo com uma violência maior, como se quizesses matar-me com as tuas armas de homem, e eu tiraria um prazer dobrado. Mas depois... depois como poderia eu olhar-te nos olhos, vendo neles um rancor horrível de estares preso a mim, rancor que nem tu confessarias a ti mesmo, mas que os teus olhos me diriam para sempre, a cada hora, mesmo quando ardessem no desejo ou no acto de estares em mim?Então ele recostou na anca dela a cabeça e, de olhos fechados, ficou assim demoradamente, sem pensar em nada, sem sentir nada, apenas dado ao calor que o penetrava suavemente e era só ternura. No sono que o envolvia como um cansaço feliz, a sua ama, com a voz dela, cantava-lhe um velho cantar que, pouco a pouco, foi deixando de ouvir, na deriva em que se afastava de tudo e de si mesmo, com a sensação de que não estava só na barca que descia o rio. E a segurança que jamais estaria só, nunca, nunca, em parte nenhuma.

Jorge de Sena ( O Físico prodigioso)

22/10/07


[…]
Sonhei tanto contigo,
Caminhei tanto, falei tanto
Amei tanto a tua sombra,
Que já nada me resta de ti.
Resta-me ser sombra entre as sombras
Ser cem vezes mais sombra que a sombra
Ser a sombra que há-de vir e voltar
Na tua vida cheia de sol.

Robert Desnos - Corps et Biens (À la mystérieuse)

21/10/07

Insónia


Toda a noite, lentamente, dois ponteiros no relógio dançaram a valsa do tempo
e eu a vê-los dançar…
assim que o sol despertar, mal o candeeiro da rua se apague, vou subir à rocha mais alta e atirar os meus sonhos ao mar
quando, lentamente, dois ponteiros no relógio recomeçarem a valsa do tempo,
só o candeeiro da rua os irá ver dançar

19/10/07

Happy Birthday "old" friend

Por acreditares que é possível saltar muros altos e atravessar portas fechadas
Uma das minhas preferidas:Ella Fitzgerald-Georgia on my mind

18/10/07

gosto da melancolia contida na chuva miudinha
que enfeita os dias de céu cinzento

gosto da bruma que invade a ilha
envolvendo minha alma numa inquieta nostalgia

céu cinzento... inquieta nostalgia...

14/10/07

How I wish you were here


So, so you think you can tell
Heaven from Hell,
Blue skies from pain
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

And did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold confort for change?
And did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish, how I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

Roger Waters e David Gilmour

10/10/07

Poema del renunciamiento



Pasarás por mi vida sin saber que pasaste.
Pasarás en silencio por mi amor, y al pasar,
fingiré una sonrisa, como un dulce contraste
del dolor de quererte ... y jamás lo sabrás.

Soñaré con el nácar virginal de tu frente;
soñaré con tus ojos de esmeraldas de mar;
soñaré con tus labios desesperadamente;
soñaré con tus besos ... y jamás lo sabrás.

Quizá pases con otro que te diga al oído
esas frases que nadie como yo te dirá;
y, ahogando para siempre mi amor inadvertido,
te amaré más que nunca ... y jamás lo sabrás.

Yo te amaré en silencio, como algo inaccesible,
como un sueño que nunca lograré realizar;
y el lejano perfume de mi amor imposible
rozará tus cabellos ... y jamás lo sabrás.

Y si un día una lágrima denunciar mi tormento,
-el tormento infinito que te debo ocultar-
yo te diré sonriente: "No es nada ... ha sido el viento".
Me enjugaré la lágrima... y jamás lo sabrás

José Angel Buesa in Babel

09/10/07

Aedh Wishes for the Cloths of Heaven


Tivesse eu os tecidos bordados dos céus,
Lavrados com a prata e o ouro da luz,
Os tecidos azuis e foscos e de breu
Que têm a noite, a luz e a meia-luz
Estenderia esses tecidos a teus pés:
Mas eu, porque sou pobre, apenas tenho sonhos;
São os meus sonhos que eu estendi a teus pés;
Sê suave no pisar, que pisas os meus sonhos.


W. B. Yeats in: The Land Of Heart's Desire (1894)

07/10/07

Não queiras saber de mim...


Não queiras saber de mim
Esta noite não estou cá
Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
Como se chegasse ao fim
Fico abaixo do tapete
Afundado no serrim

Não queiras saber de mim
Porque eu estou que não me entendo
Dança tu que eu fico assim
Hoje não me recomendo

Mas tu pões esse vestido
E voas até ao topo
E fumas do meu cigarro
E bebes do meu copo
Mas nem isso faz sentido
Só agrava o meu estado
Quanto mais brilha a tua luz
Mais eu fico apagado

Amanhã eu sei já passa
Mas agora estou assim
Hoje perdi toda a graça
Não queiras saber de mim

Dança tu que eu fico assim
Porque eu estou que não me entendo
Não queiras saber de mim
Hoje não me recomendo


Carlos Tê/Rui Veloso

04/10/07


E agora uma questão:

Caros amigos, como se sentiriam se dessem de caras com os vossos escritos, postados por outras pessoas, noutros blogues ou em comentários, e ainda por cima, assinados descaradamente como sendo delas?

Por uma questão de princípios, senti-me triste... não devia?

Oceano Nox


Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...


Antero de Quental (Poesia Completa, 1842-1891)

01/10/07


a cada folha que cai há um prenúncio de despedida
na aragem da tarde sopra gelada a palavra adeus
e no caminho, castanho laranja, em cantos distantes…
o som dos teus passos

28/09/07

Ilhas de bruma


Por isso é que eu sou das ilhas de bruma

Onde as gaivotas vão beijar a terra

É que nas veias corre-me basalto negro

No coração a ardência das caldeiras

O mar imenso me enche a alma

E tenho verde, tanto verde a indicar-me a esperança

27/09/07

1957 - 2007

No dia 27 de Setembro de 1957 iniciou-se uma erupção submarina ao largo do Farol dos Capelinhos, na Ilha do Faial. O Vulcão dos Capelinhos, para além de constituir um marco histórico da vulcanologia mundial, pelos estudos e ensinamentos que proporcionou, marcou decisivamente a história de uma Ilha e de uma Região.

26/09/07

“Phyrrula murina”

E hoje resolvi falar de uma ave com a qual tenho uma relação de especial carinho.
Talvez por ser tão frágil e pequena, talvez por se encontrar em vias de extinção, facto é que gosto muito deste "passarinho".

Eis o PRIOLO:

O Priolo, de nome científico “Phyrrula murina”, é uma ave de pequenas dimensões, com um peso médio de 30 gramas e cerca de 16 centímetros de comprimento, característica pelo seu aspecto robusto e altivo, com uma coroa negra na cabeça, bico igualmente negro, curto e forte e uma cauda preta, que se alimenta exclusivamente de vegetação.

Esta ave que só existe nos Açores está ameaçada de extinção.
De acordo com o ultimo censo realizado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) existem cerca de 490 priolos, que vivem circunscritos a uma área de 6.000 hectares de floresta, na zona Oriental de S. Miguel, já classificada como protecção especial.

A partir do próximo mês de Outubro a ilha de S.Miguel vai dispor de um centro ambiental dedicado ao priolo, no Parque Florestal da Cancela do Cinzeiro, no Nordeste.

Todos os dias agora acordo com alegria e pena.
Antigamente acordava sem sensação nenhuma; acordava.
Tenho alegria e pena porque perco o que sonho
E posso estar na realidade onde está o que sonho.
Não sei o que hei de fazer das minhas sensações,
Não sei o hei-de ser comigo.
Quero que ela me diga qualquer coisa para eu acordar de novo.

Quem ama é diferente de quem é.
É a mesma pessoa sem ninguém.

O Pastor Amoroso - Alberto Caeiro

24/09/07

despem-se cinzas e véus
e cantares de bruma sombria
bailam sopros idílicos de cor
só tu acendes o sol

23/09/07



Porque hoje é Domingo aqui está uma prenda: RENÉE FLEMING numa interpretação fantástica de "Un bel di vedremo" da ópera Madame Butterfly de Puccini
Vá la digam que não gostam…

21/09/07


Se deste outono uma folha,

apenas uma, se desprendesse

da sua cabeleira ruiva,

sonolenta,

e sobre ela a mão

com o azul do ar escrevesse

um nome, somente um nome,

seria o mais aéreo

de quantos tem a terra,

a terra quente e tão avara

de alegria.


Eugénio de Andrade

18/09/07


antes que se dilate a sombra da noite
o anjo branco faz a sua aparição
e fechando-se em minhas pálpebras, e abrigado nelas
expulsa com sua espada de fogo o mundo hostil que gira às escuras

e não há negro para ele nem para mim

17/09/07

Lost… in translation



пришел к тебе с приветом...

Я пришел к тебе с приветом,
Рассказать, что солнце встало,
Что оно горячим светом
По листам затрепетало;

Рассказать, что лес проснулся,
Весь проснулся, веткой каждой,
Каждой птицей встрепенулся
И весенней полон жаждой;

Рассказать, что с той же страстью,
Как вчера, пришел я снова,
Что душа все так же счастью
И тебе служить готова;

Рассказать, что отовсюду
На меня весельем веет,
Что не знаю, сам что буду
Петь, но только песня зреет

Afanasii Fet

16/09/07

Edward Pothast - Looking out to Sea

“Chegaste. Eu não te esperava. Contigo trouxeste a ternura, o desejo e, mais tarde o medo. Chegaste e eu não conhecia essa ternura, esse desejo. Em casa, no meu quarto, neste quarto, revi os teus olhos na memória, a ternura, o desejo. E, depois, aquilo que eu sabia, o medo. E passou tempo. Eu e tu sentimos esse tempo a passar mas, quando nos encontramos de novo, soubemos que não nos tínhamos separado”

José Luís Peixoto; excerto de “Capricórnio a seus Pés” in Antídoto

Sebastião Alba - Ninguém meu amor

Piet Mondrian, Mill in Sunlight, 1908


Ninguém meu amor

ninguém como nós conhece o sol

Podem utilizá-lo nos espelhos

apagar com ele

os barcos de papel dos nossos lagos

podem obrigá-los a parar

à entrada das casas mais baixas

podem ainda fazer

com que a noite gravite

hoje do mesmo lado

ninguém como nós conhece o sol

Até que o sol degole

o horizonte em que um a um

nos deitam

vendando-nos os olhos


in «A Noite Dividida»

14/09/07


O tempo passa
A vida passa
Eu passo

Com o passo no compasso
Com o passo em descompasso

Passam os dias
Em passo lento
Em passo apressado

E eu passo
E a vida passa
E o tempo passa

E tudo passa ...