23/09/13



Equinócio

Árvores são máquinas de caírem folhas
como nós somos de doer e fim e noites
E quando choramos não fazemos mais
do que a nossa mui íntima obrigação
Se amamos tão úteis quanto uma flor
pétala a pétala até chegar o Outono
é porque não assinámos o tempo
E clandestinamente vamos caindo
amparando as mortes com beijos
à espera de um fim para começar

Nuno Camarneiro

22/07/13

per te

05/06/13

O Silêncio  

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade, in "Obscuro Domínio"

29/05/13

After The Storm

There are so many islands!
As many islands as the stars at night
on that branched tree from which meteors are shaken
like falling fruit around the schooner Flight.
But things must fall,and so it always was,
on one hand Venus,on the other Mars;
fall,and are one,just as this earth is one
island in archipelagoes of stars.
My first friend was the sea.Now,is my last.
I stop talking now.I work,then I read,
cotching under a lantern hooked to the mast.
I try to forget what happiness was,
and when that don't work,I study the stars.
Sometimes is just me,and the soft-scissored foam
as the deck turn white and the moon open
a cloud like a door,and the light over me
is a road in white moonlight taking me home.
Shabine sang to you from the depths of the sea.

Derek Walcott

10/02/13





Dois Amantes, o Mundo

dois  amantes, o mundo 
cada um no seu reino, beijam-se nas praias 
quando as ondas batem as areias 

o mar é o meu navio, 
hoje naufrago feliz 

sabes quem sou, as dunas 
que se levantam com o vento são 
os sonhos do amor que dormita 
em sossego nas praias 

a terra és tu o mar sou eu 


Jorge Reis-Sá, in "A Palavra no Cimo das Águas"

23/01/13




O mar é longe,mas somos nós o vento;
e a lembrança que tira,até ser ele,
é doutro e mesmo,é ar da tua boca
onde o silêncio pasce e a noite aceita.
Donde estás,que névoa me perturba
mais que não ver os olhos da manhã
com que tu mesma a vês e te convém?
Cabelos,dedos ,sal e a longa pele,
onde se escondem a tua vida os dá;
e é com mãos solenes,fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessário ao pé do mar.

Pedro Tamen

09/01/13


Quando em silêncio passas entre as folhas,
uma ave renasce da sua morte
e agita as asas de repente;
tremem maduras todas as espigas
como se o próprio dia as inclinasse,
e gravemente, comedidas,
param as fontes a beber-te a face.

Eugénio de Andrade in
As Mãos e os Frutos

04/01/13