30/11/07



Difícil...
difícil e inglória tarefa, esta das mãos tentarem acompanhar ao teclado,

o pensamento que vagueia inquieto...

27/11/07


Canción de la espera

Espero tu sonrisa y espero tu fragancia
por encima de todo, del tiempo y la distancia.
Yo no sé desde dónde, hacia dónde, ni cuándo
regresarás... sé sólo que te estaré esperando.

En lo alto del bosque y en lo hondo del lago,
en el minuto alegre y en el minuto aciago,
en la función pagana y en el sagrado rito,
en el limpio silencio y en el áspero grito.

Allí donde es más fuerte la voz de la cascada,
allí donde está todo y allí donde no hay nada,
en la pluma del ala y en el sol del ocaso,
yo esperaré el sonido rítmico de tu paso.

Comprendo que de mí ya se ría la gente
al ver cómo te espero desesperadamente.
Cuando todos los astros se apaguen en el cielo,
cuando todos los pájaros paralicen el vuelo
cansados de esperarte, ese día
lejano yo te estaré esperando todavía.

No importa: aunque me digan todos que desvarío,
yo te espero en las ondas musicales del río,
en la nube que llega blanca de su trayecto,
en el camino angosto y en el camino recto.

Niño, joven o anciano, sonriendo o llorando,
en el alba o la tarde, yo te estaré esperando,
y si me convenciera que ese ansiado día
no habría de llegar, también te esperaría.


José Angel Buesa in Babel

26/11/07


…de como nada mais precisa dizer, pois que já o fez Álvaro de Campos, como abaixo de pode ler...

I

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei,
De nada me serviria sabê-lo
Pois o cansaço fica na mesma,
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
[…]
Estou cansado é claro
II

[...]
Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas por dentro de todas as hipóteses que eu poderia
ver da rua
Não há travessa achada o número de portas que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta - até essa vida…

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapso de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.

Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me náufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
[…]

Lisbon Revisited (1926)

III

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
[…]
O que há em mim é sobretudo cansaço

22/11/07


Começo a conhecer-me. Não existo.

Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,

Ou metade desse intervalo, porque também há vida…

Sou isso, enfim…

Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.

Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.

É um universo barato.


Álvaro de Campos

21/11/07


Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.


No calcanhar do vento
António Ramos Rosa in Antologia Poética

19/11/07

As minhas Ansiedades

As minhas ansiedades caem
Por uma escada abaixo
Os meus desejos balouçam-se
Em meio de um jardim vertical.

Na Múmia a posição é absolutamente exata

Música longínqua
Música excessivamente longínqua,
Para que a Vida passe
E colher esqueça aos gestos


Fernando Pessoa -Cancioneiro



Chuva: fenómeno meteorológico que consiste na precipitação de água sobre a superfície da Terra
-Nem todas as chuvas atingem o solo, algumas evaporam-se enquanto estão ainda a cair -


manhã submersa... ilha submersa… alma submersa

18/11/07


On the stiff twig up there
Hunches a wet black rook
Arranging and rearrainging its feathers in the rain.
I do not expect a miracle
Or an accident
Sylvia Plath

Sinto que também tu a vês rondar, sombra de negro vestida, rindo irónica, indiferente e insensível ao tempo que por direito te devia esperar

apertas-me a mão, sorriso calmo e cansado, como a pedir que a tire dali, que não a deixe ganhar

e eu tento afastá-la da única forma que sei, com as únicas armas que tenho
… meus braços para te abraçar…


16/11/07


Um dia… não hoje
um dia vou escrever chilreios de pássaros, céus azuis, campos de flores
mãos dadas, sorrisos alegres
e uma alvorada de mil cores

um dia… não hoje
hoje escrevo rosto em traço cerrado, névoas de silêncio pesado,
negro céu carregado, vento de sopro gelado
e uma mão cheia de amanhãs adiados

13/11/07



Cumpria-se Novembro na primeira hora daquela tarde
antes que a chuva chegasse aberta para lavar o jardim com mansidão
e humedecesse meus olhos pela cor perdida,
que a memória não ajuda a reter o sabor de um beijo,

procurei azul …

cumpria-se Novembro e naquela tarde que era quase uma noite, olhei o céu e a sua luz empalidecera também.

quem pôde desbotar as cores dos meus olhos?

12/11/07

Balada de sempre


Espero
a tua vinda,
a tua vinda,
em dia de lua cheia.
debruço-me sobre a noite
inventando crescentes e luares.
Espero o momento da chegada
com o cansaço e o ardor de todas as chegadas.
Rasgarás nuvens, estradas,
abrindo clareiras
nas sebes e nas ciladas.
Saltarás por cima de mares,
de planícies e relevos
- ânsia alada
no meu desejo imaginada
Mas
enquanto deixo a janela aberta
para entrares
o mar aí além,
lambe-me os braços hirtos,
braços verdes
algas de sonho
- e desenha ironias na areia molhada

Fernando Namora in As frias Madrugadas

07/11/07


falta um espaço no tempo… um compasso no espaço
falta talvez, apenas um passo
sobram sorrisos alegres, palavras amáveis…
máscaras moldadas em ausências de ti

04/11/07

Longinqua e calma melodia
no lado vazio da noite perturba silêncios

São dedos, libertos do medo...
dedilham ternura, desvendam segredos

E cristalinas lágrimas, tecidas de sonho por cumprir
imitam gotas de chuva
.

02/11/07

Dando cumprimento ao desafio que me foi lançado, aqui vai:

1) Sem escolher, pegar no livro mais próximo;
2) Abri-lo na página 161;
3) Na referida página procurar a 5ª frase completa;
4) Transcrever na íntegra para o seu blogue, a frase encontrada;
5) Passar o desafio a 5 bloggers;

7) Divulgar o nome e o autor do Livro.

“ Começamos a falar de progresso.Disse que a questão de fazer o bem ou fazer o mal, cada um de nós decide por si, sem esperar o momento em que a Humanidade chegue a uma conclusão sobre isso, através do desenvolvimento progressivo"

Anton Tchekov
A minha vida - relato de um provinciano

E agora passo o desafio a : Palavras previamente Ensaiadas, As mãos por dentro do corpo, Urbanidades, Selos difusos e Marulhos