04/10/07

Oceano Nox


Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo dum pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...


Antero de Quental (Poesia Completa, 1842-1891)

3 comentários:

hfm disse...

Como só ele sabe escrever!

Rui Caetano disse...

POema lindíssimo, mas quero revelar que também sou um apixonado incondicional do MAR.

carteiro disse...

Este poema é lindíssimo. Faz-me lembrar do, e pensar no, Inverno...
Bom fim-de-semana.