21/11/07


Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.


No calcanhar do vento
António Ramos Rosa in Antologia Poética

11 comentários:

Maria Laura disse...

Belíssimo. Um mergulho na útero da terra mãe.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

nao!!! Por favor não me apagues!!!!

hfm disse...

Como eu gosto dele!

un dress disse...

e tudo renasceria verde e limpO!!





tão belO!....................:)

beijO

Gi disse...

Tenho um fraquinho especial pelo Ramos Rosa como possivelmente já reparaste, este tem a beleza das coisas tristes, gosto de lhe dar sempre o meu toque, reparei que a un_dress já o fez por mim . Morrer para depois renascer. Feito, folha, feito flor, feito fruto. Árvore!

Um bejo

Manuela Viola disse...

Linda esta foto e lindo o poema do Ramos Rosa que lhe "assenta" primorosamente. Bjo.

avelaneiraflorida disse...

QUERIDA AD ASTRA!

Que o renascer seja um modo de encontrar a serenidade!!!!

António Ramos Rosa, um poeta muito especial!!!!

Bjks, AMIGA!!!!!!

Joana Roque Lino disse...

Sabes que o António Ramos Rosa é uma das minhas grandes referências? Quando o descobri, descobri também, pela primeira vez, que as palavras de um poema podiam ser "livres" e essa liberdade, nele, sabe tão bem... beijo grande, para Ti.

Rui Caetano disse...

Um grande poeta só poderia escrever um enorme poema. No calcanhar do tempo, é onde nos encontrámos à procura de nós mesmos.

eduardo jai disse...

Sempre bom encontrar um espaço com Poesia segundo Ramos Rosa.
Um dos meus poetas portugueses favoritos e que não pensava encontrar hoje...

Um dia BOM.