30/07/07

I Pagliacci de LeonCavallo- Vesti La Giubba




Porque hoje as palavras são o silêncio feito de ausências.


A noite sem madrugada
A alma rasgada
amputada
e as lágrimas…
as lágrimas por dentro do rosto

28/07/07



Há um entardecer de silêncios partilhados que, melodicamente, dissipa distâncias

25/07/07


hoje tem estrelas,
gosto de estrelas
as estrelas não cabem onde se possa guardar
nada verdadeiramente belo,
cabe onde se possa guardar


na face,
gota de orvalho
salgada
e essa mania de querer ser garça,
escalar o vento

24/07/07

O Homem é um Animal Irracional


1. O homem é um animal irracional, exactamente como os outros. A única diferença é que os outros são animais irracionais simples, o homem é um animal irracional complexo. É esta a conclusão que nos leva a psicologia científica, no seu estado actual de desenvolvimento. O subconsciente, inconsciente, é que dirige e impera, no homem como no animal. A consciência, a razão, o raciocínio são meros espelhos. O homem tem apenas um espelho mais polido que os animais que lhe são inferiores.

2. Sendo assim, toda a vida social procede de irracionalismos vários, sendo absolutamente impossível (excepto no cérebro dos loucos e dos idiotas) a ideia de uma sociedade racionalmente organizada, ou justiceiramente organizada, ou, até, bem organizada.

3. A única coisa superior que o homem pode conseguir é um disfarce do instinto, ou seja o domínio do instinto por meio de instinto reputado superior. Esse instinto é o instinto estético. Toda a verdadeira política e toda a verdadeira vida social superior é uma simples questão de senso estético, ou de bom gosto.

4. A humanidade, ou qualquer nação, divide-se em três classes sociais verdadeiras: os criadores de arte; os apreciadores de arte; e a plebe. As épocas maiores da humanidade são aquelas em que sobressaem os criadores de arte, mas não se sabe como se realizam essas épocas, porque ninguém sabe como se produzem homens de génio.

5. Toda a vida e história da humanidade é uma coisa, no fundo, inteiramente fútil, não se percebe para que há, e só se percebe que tem que haver.

6. A plebe só pode compreender a civilização material. Julgar que ter automóvel é ser feliz é o sinal distintivo do plebeu.

O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não.

Fernando Pessoa, in 'Reflexões Sobre o Homem - Textos de 1926-1928

Nunca me canso de ler isso...

23/07/07


Espuma de bruma,
mar sonho
adiado
lava cinza
barco, na terra ancorado

22/07/07


Hoje é Domingo e o Sol vestiu a ilha.

Como sempre, lá estava ele, no banco do jardim, tendo por companhia fiel aquela que nunca o deixava só, a garrafa do vinho.

Indiferente à beleza do dia, indiferente aos que, indiferentes, passavam.
A barba amarelada pelo esquecimento, numa face enrugada, certamente de mágoa e tristeza, olhar espezinhado pela vida.

E afinal também ele, num passado distante, teve uma mãe que o acarinhou, um filho a quem amou, sonhos e ambições no olhar. Num outro olhar diferente…

Eu … eu, continuei, pois hoje é Domingo e o Sol vestiu a ilha.

21/07/07


O que sinto?
Está escrito...no rugido que irrompe das entranhas da terra!

20/07/07


Que mar é este que prende,envolve, e no entanto me liberta?

19/07/07

Vivo del Mar?


Vivo del mar?...
(El mar por mí ha nacido
y al sol del mar mi soledad se acoge.)

Canto a la soledad:
Mar de la soledad por qué no brillas?
Mar de tu soledad vive mi cuerpo.
Mi soledad sin piel también te busca.
Soledad soy del mar para cantarte!

Tendido en ti, mi soledad, espero
que al sol de ti mi soledad responda.
-Sobre la soledad del mar que vivo
desnudo en soledad, qué mar se esconde?

(...)
Emilio Prados


Ignoro as distâncias que espreitam nas esquinas do tempo

18/07/07


Hoje apetece-me partilhar um poema de que gosto particularmente, extraído do livro A Base e o Timbre de Fernando Echevarria, que este ano foi o vencedor com "Obra Inacabada", do Prémio Sophia de Mello Breyner Andresen.

Iluminar-se a análise
por trás de cada ponto da pupila
desembacia a base
de ver. E ver culmina
na ordem luminosa por onde as mãos se fazem
inteligência que desliza
e arde quase
no material que surge análise
da ciência divina.

Benzo-me em nome da melancolia,
ciência teológica que funda
sermos a história reflectida
de não haver nenhuma,
senão a de um espelho que ilumina
os pensamentos da sua face pura
e onde sermos pensados nos inclina
a ver história onde só há leitura
do esquecimento e da melancolia,
ciências da lógica absoluta.

17/07/07


Diz tanto o silêncio quanto uma manha de bruma.
Ei-lo breve, e brevidade não precisa de sentido

16/07/07

"Vê mais longe a gaivota que voa mais alto"


"...Virgilio Gaivota abandonou o Bando,cambaleando pela areia,arrastando a asa esquerda, e caindo aos pés de Fernão.
- Ajuda-me - pediu-lhe baixinho, com voz de moribundo. - O meu maior desejo é voar--.
- Então, vem - disse Fernão.- Sobe comigo e começaremos.
- Não entendeste... A minha asa... Não consigo movê-la.
- Virgilio Gaivota, tu tens a liberdade de ser tu próprio, o teu verdadeiro eu. Aqui e Agora, nada se pode intepor no teu caminho.Essa é a Lei da Grande Gaivota, a Lei que É.
- Queres dizer que posso voar?
- Quero dizer que és livre.
Assim, tão simples e rápidamente, Virgilio Gaivota, abriu as asas, e sem esforço, elevou-se na noite escura.O Bando foi despertado, pelo seu grito bem alto:
-Posso voar! Ouçam! POSSO VOAR! ..."

Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach

Hoje não vai ser fácil...

15/07/07

Narciso Yepes - Concierto de Aranjuez de Joaquim Rodrigo




Vá hoje é Domingo. Bom dia para vos dar uma prenda...Deliciem-se

Esta madrugada vi Retrato de uma Senhora. Uma adaptação ao cinema da novela clássica de Henry James com realização de Jane Campion, (a mesma de O Piano) , e tendo nos principais papéis Nicole Kidman, John Malkovich e Barbara Hershey.
Gostei!

14/07/07

Hoje descobri este poema saxónico do sec IX
O conceito aqui transmitido, amedronta.
Acho que estou fúnebre…

A SEPULTURA

Para ti foi construída a casa, antes de nasceres.
Para ti destinada a terra, antes que saísses de tua mãe.
Não a fizeram ainda. Ignora-se a sua fundura.
Não se sabe ainda que comprimento terá.
A tua casa não é muito alta. É humilde e baixa.
Quando estiveres aí, as valas serão baixas, humildes as paredes.
O tecto está perto do teu peito. Habitarás então no pó e sentirás frio.
Toda a treva e toda a sombra apodrecerá no covil.
Essa casa não tem porta e não há luz lá dentro.
Aí estás firmemente encarcerado e a morte possui a chave.
Aborrecida é essa casa térrea e atroz é morar nela.
Aí estarás e hão-de devorar-te os vermes.
Aí estás fechado longe dos teus amigos.
Nenhum amigo te visitará para te perguntar se essa casa te agrada.
Ninguém abrirá a porta.
Ninguém descerá a esse lugar porque muito depressa serás aborrecido para os olhos.
A tua cabeça será despojada do cabelo e a beleza apagar-se-á.


Quando a noite não for um espaço vazio...

13/07/07


Eu não sou supersticiosa... Dá azar!

Nostalgia -Bergman

Lembrou-me "Peniche”, um filme que vi há muitos anos; Sommarlek, na versão Portuguesa, Juventude do grande Ingmar Bergman.
Bergman, esse realizador de excelência que, como ninguém, conseguiu despir na tela sentimentos e abordar temas tão intrínsecos ao ser humano, como o amor, o desejo e a morte.
Lembrei-me igualmente de Fanny e Alexandre, Mónica e o desejo, Morangos Silvestres e principalmente o meu favorito Sonata de Outono.
A nostalgia obriga-me a revê-los muito brevemente.

12/07/07


Se querer bastasse...

11/07/07

10/07/07


Tivesse eu asas ao invés de correntes...

Bill Evans – From Left to Right


Um sol radioso brilha lá fora lembrando-me a todo o instante que preciso das férias, que ainda demoram a chegar e fazendo o espírito viajar para sítios longínquos
Vale-me a redescoberta de um Cd que andava esquecido há muitos anos, para ajudar a concentrar-me.
Uma maravilha…”Why Did i Choose You”

Hoje só me apetece...

09/07/07

Memória


Y resbaló el amor estremecido
por las mudas orillas de tu ausencia.
La noche se hizo cuerpo de tu esencia
y el campo abierto se plegó vencido.

Un ayer de tus labios en mi oído,
una huella sonora, una cadencia,
hizo flor de latidos tu presencia
en el último borde del olvido.

Viniste sobre un aire de amapolas.
Como suspiros estallando rojos,
bajo el ardor de las estrellas plenas,

los labios avanzaron como olas.
Y sumido en el sueño de tus ojos
murió el dolor en las floridas venas.


Dionisio Ridruejo

08/07/07

Sopro


É naquele remoto sopro dentro do coração
que cada um reconhece o seu destino.
O sonho mais proibido: a ideia de um infinito
por fim quotidiano deixado em sorte
ao corpo do amor.
Rendido e prisioneiro para conservar intacto
o seu sabor, subtraído ao vazio havido entre as coxas
longamente, em vão, como a água que todavia desliza da mão.

Paolo Ruffilli

07/07/07

As 7 maravilhas do (meu) mundo


Porque trazemos um mundo dentro de nós, elegi as 7 maravilhas, daquele que é o meu:

- Os livros, todos os que li, todos os que me faltam ler, em prosa, em verso,repletos de palavras, fragmentos de vida.

- Suite n.3 em Ré maior,BWV 1068. de Bach

- Madame Butterfly de Giacomo Puccini

- O mar, revolto, rugindo agitado pelas tempestades que o atormentam. O mar, calmo e tranquilo, murmurando canções, embalando os sentidos

- O cheiro da terra húmida num entardecer de nevoeiro baixo,nas margens da Lagoa das Sete Cidades

- A mão pequena de um bebé, agarrando a minha, pedindo que lhe mostrasse o mundo a que acabava de chegar

E o verde…verde àgua, verde ilha, verde mar, por onde se passeiam os meus sonhos

06/07/07

05/07/07


Eu sei,

Às vezes o que faz sentido é desistir

Baixar os braços, encolher os ombros

Deixar o tempo correr

Sem ter de escolher, sem ter de decidir



"…E, no entanto, é preciso cantar,

mais do que nunca é preciso cantar…"



"Ser como um rio que fluí

Silencioso no meio da noite

Não temer as trevas da noite.

Se há estrelas no céu, reflecti-las

E se os céus se pejam de nuvens

Como o rio as, nuvens são água;

Reflecti-las também sem mágoa

Nas profundidades tranquilas"



E eu estou aqui

Hoje é assim:

04/07/07

03/07/07

02/07/07


Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

Alberto Caeiro

James

De tanto amor a minha vida tingiu-se de violeta
e andei de senda em senda como as aves cegas
até chegar á tua janela, meu amor:
tu sentiste um rumor de coração partido

e então das trevas subi ao teu peito,
sem ser e sem saber fui à torre do trigo,
surgi para viver nas tuas mãos,
saí do mar para a tua alegria.

Ninguém pode contar o que te devo, é evidente
o que te devo, amor, e é como uma raiz
nascida na Araucânia, o que te devo,amor.

É sem dúvida estrelado tudo o que te devo,
e o que te devo é como o poço duma zona silvestre
onde o tempo guardou relâmpagos errantes



Neruda – Soneto LXIV

01/07/07

O elmo de Mambrino


" -Valha-me Deus senhor Dom Quixote, que não posso aguentar ou ter paciência com algumas coisas que vossa mercê diz, já que por elas imagino que tudo isso deve ser coisa de vento mentira ou patranhas, ou como lhe queira chamar. Porque quem ouvir vossa mercê dizer que uma bacia de barbeiro é o elmo de Mambrino, e que não sai deste erro há mais de quatro dias, que há-se pensar, senão que quem tal diz e afirma deve ter pouco juízo?
-Olha Sancho Pança – disse Dom Quixote - que tens o mais curto entendimento que tem ou teve algum escudeiro no mundo. Será possível que em todo o tempo que andas comigo não tenhas deixado de ver que todas as coisas dos cavaleiros andantes parecem quimeras, loucuras e desatinos, e que são todas feitas ao contrário? E não porque sejam assim, mas porque andam sempre entre nós uma caterva de encantadores que mudam todas as nossas coisas, as trocam e voltam a trocar a seu gosto, consoante nos querem favorecer ou destruir. Por isso, aquilo que a ti te parece uma bacia de barbeiro parece-me a mim o elmo de Mambrino e a outrem parecerá outra coisa. E foi rara providência do sábio fazer com que a todos pareça uma bacia o que na realidade e verdadeiramente é o elmo de Mambrino, pois, sendo ele de tal estima, todo o mundo me perseguiria para mo tirar, mas como vêem que não é mais do que uma bacia de barbeiro, não se dão ao trabalho de o procurar…”

Cervantes - D.Quixote de la Mancha

Na semana que passou

Após dez anos de indecisões, conversações e negociações, foi finalmente inaugurado, com a pompa e circunstancia que merecia, o Museu Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea
Avaliada em mais de 300 milhões de euros, com obras dos maiores autores de arte contemporânea, de Picasso a Dali, de Warhol, a Miro, está finalmente disponível para os olhos dos comuns mortais
Joe Berardo, em entrevista directa, e ao lado do nosso Primeiro, afirmou satisfeito “…a cultura é linda e se temos cacau para a comprar ainda melhor..”
Um mimo!

O conhecido Miguel Paes do Amaral, começou a comprar uma série das maiores e mais destacada editoras literárias, afirmando, numa entrevista recente, que apenas se trata de uma operação financeira e não cultural, pois “… Os livros não me interessam.”
Pois, ele é mais dos carros de desportos.
E os livros ficaram tristes


A Câmara dos Técnicos Oficiais de Conta publicou no seu anuário um estudo que prova que a maior parte das Autarquias do Pais está em ruptura financeira.
Fernando Ruas, Presidente da ANMP, diz que o estudo, não estando errado, não é bem assim, e que se assim fosse as Autarquias tinham de fechar as portas.
Afinal?